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domingo, março 17, 2024

Gaudério

 


Quando via um gaudério sem rumo,

pensava: por que andará assim,

perdido nesses pagos,

como um cusco sem dono?

Eles apeiam do baio,

procuram uma sombra tranquila,

amarram o cavalo e, só então,

se achegam ao bolicho.

Batendo na aba do chapéu, gritam:

"Ó de casa, posso me achegar?"

Essa é a senha do cheiro

do mate amargo que sentem no ar.

Queimados de sol,

com a pele seca como cobra

lagarteando nas manhãs,

falam pouco

quase sempre só para se apresentar:

"Sou de Palmeira das Missões,

mas toco boiada

pelas bandas do Uruguai."

Quando encontram uma chinoca

nos fandangos da vida,

uma coisa é certa:

não deixam que toquem suas cabeças.

Receiam sentir-se como um Pierrô abandonado,

abanando o rabo na solidão.

Vai, gaudério!

Foge do teu destino,

cavalgando nas noites de vento minuano,

sob um céu coberto de estrelas.

Se o destino chegar primeiro,

que ninguém saiba o que aconteceu,

nem por onde andou

este pobre desgarrado.



domingo, agosto 13, 2023

APAGAMENTO

Jesus me disse que acordou assustado, com uma dor de cabeça insuportável e louco de sede em um lugar horrível, escuro, iluminado por uma lâmpada muito fraca, esfumaçado e fedorento. Viu que havia outros homens, aparentemente mendigos, maltrapilhos e desgraçados. Aos poucos, percebeu que estava em uma cela de um presídio. Não conseguia compreender nada, tudo era confuso.


Ficou quieto em um canto, desejando loucamente um cigarro, mas não queria pedir. Supôs que os homens presos ali eram ladrões, assassinos, traficantes, ou que estavam ali pela lei Maria da Penha. Pela maneira que eles falavam entre si eram bandidos de longa data, acostumados com a ida e vinda no presídio, já que tinham tatuagens e trejeitos de quem já conhece o ambiente. Uns tinham o olhar frio, distante. Outros encaravam diretamente, sem expressão ou com um olhar de ódio. Tentou forçar a memória e lembrar porque havia sido preso. Lembrou que tudo tinha acontecido na sexta-feira pois recebeu seu salário semanal. Lembrou que foi pro bar e gastou todo seu dinheiro em cerveja. Ficou sentado ali no chão, no piso frio e sujo, próximo do que chamavam de 'boi'. Um cheiro insuportável dificultava o esforço mental para recordar o que tinha acontecido.

O sábado passou muito rápido. Nem viu o tempo passar. No domingo à tarde teve coragem para perguntar ao carcereiro se a esposa ou a sogra haviam deixado alguma carteira de cigarros ou qualquer outra coisa para ele. O carcereiro respondeu com uma expressão de nojo, cuspindo no chão:

"Cara, tu matou sua mulher e tua sogra, não lembra?"

Ficou em choque. Não conseguia acreditar no que estava ouvindo. 

Não lembrava de nada. O carcereiro explicou que havia sido preso por tê-las matado a facadas. Ele amava a esposa, ela era a pessoa mais perfeita, íntegra, honesta, trabalhadora... era loucamente apaixonado. A sogra era a bondade toda dentro dela. Uma mulher religiosa, caridosa que atendia todo mundo com muito carinho e tinha os acolhido em sua casa depois que ficou desempregado. 

Jesus não conseguia acreditar. Logo ele que nunca havia feito nada de errado na vida. Um homem bom, trabalhador, honesto, um marido e genro amoroso. Ele não conseguia entender como poderia ter feito algo tão terrível.

Foi levado para uma sala de interrogatório e foi interrogado pela polícia por horas. Ele tentava explicar que não lembrava de nada, mas eles não acreditaram. Os policiais disseram que estava mentindo, tentando encobrir seu crime hediondo. Foi levado para o tribunal e condenado à pena máxima por duplo homicídio, sem a possibilidade de liberdade condicional.

Ele agora está há 10 anos na prisão. Ainda não lembra de nada do que aconteceu naquela noite. Todos os dias ele quer desesperadamente descobrir a verdade. Quer saber se realmente matou a esposa e a sogra. Precisa saber se é um monstro.

quarta-feira, julho 13, 2022

AVANTE


Não te sinta vencido a nenhum vencido

Nem te sinta escravo de outro escravo.

Tremendo de pavor, sinta-se bravo e arremete  mesmo que ferido. 


Proceda como Deus que nunca chora ou como lúcifer que nunca reza. Ou como o Carvalho que com sua grandeza necessita de água mas não implora! 


Tenha a sagacidade de um prego enferrujado que mesmo velho e torto, volta a ser prego.


Não se acovarde como o pavão que encolhe sua penagem ao menor ruído.


Morda, grite, vocifere bravamente, mesmo rolando pelo chão sua cabeça! 


- um dia escutei, gravei e divido com vocês! 



terça-feira, janeiro 03, 2017

Revista Programa


Revista Programa: um marco do jornalismo de turismo nos anos 1970

Em 1978, a Editora Intermédio, dos jornalistas Políbio Braga, Ana Amélia Lemos e Ayres Cerutti, publicava a Revista Programa, no 3° andar da galeria chaves, considerada à época a melhor revista de turismo do Brasil. A publicação reunia uma equipe criativa e ousada, marcada por talentos que mais tarde ocupariam posições de destaque em diversas áreas da comunicação e da cultura.

Na imagem registrada pelo fotógrafo — um tradicional lambe-lambe do Chalé da Praça XV, em Porto Alegre — aparecem, da esquerda para a direita: Jorge Fischer Nunes, conhecido pelo provocativo livro o Riso dos Torturados; o ilustrador Paulo Carvalho, também chamado de Jaca; Flávia; João Carlos Bernardo, foi também empresário e dono da marca de biquínis Porta do Sol; Paulo Figueiredo, então editor e mais tarde um dos nomes à frente da Zero Hora; e Eloy Figueiredo, um dos integrantes da equipe.




segunda-feira, outubro 03, 2016

Hot Show

Dupla Jornada.
Hot Show, minha loja na Rua Augusto Pestana, 54, em frente ao Pronto Socorro, entre duas funerárias na Avenida Venâncio Aires e Avenida Oswaldo Aranha, no Bom Fim, era um dos pontos mais badalados de Porto Alegre. O ano era 1985, o auge do bairro, onde tudo acontecia. Depois das dez da noite, quando eu ia até a loja para recolher a produção nas sextas, sábados e domingos, a rua ficava lotada de magrinhos e magrinhas do Bonfa – só gente bonita. As gurias, como diziam Kleiton e Kledir, "literalmente estavam tri a fim". Além das máquinas de fliperama, havia duas mesas de sinuca na parte de trás, onde rolavam campeonatos acirrados, com disputas por troféus!





Eloy Figueiredo / Baru Derkin

Sucursal de O Globo em Porto Alegre, 1980 

Baru Derkim, além de um grande repórter fotográfico, adorava desenhar.  

quinta-feira, setembro 29, 2016

Ernesto Meyer Filho/JB


Conheci Mayer Filho, um artista extremamente fascinante, enquanto trabalhava na sucursal do Jornal do Brasil em Florianópolis. Passamos diversas tardes tomando chopp juntos e discutindo animadamente suas teorias sobre a existência de vida em outros planetas, sempre no balcão do Box 32 do mercado público.



Ernesto Meyer Filho. By Eloy Figueiredo.

terça-feira, outubro 13, 2015

O Globo


A vibrante sucursal do Jornal O Globo, no 2º andar do edifício do Relógio na Rua da Praia esquina com a rua da Ladeira, era um microcosmo da cidade de Porto Alegre. A equipe, formada por jornalistas, fotógrafos e o comercial com Setembrino Machado era composta por pessoas de diferentes origens e experiências, que trabalhavam juntas para produzir um jornalismo de qualidade.

Os fotógrafos Gerson Schirmer, Baru Derkin, Eduardo Guimarães e o Santinho eram responsáveis por registrar os acontecimentos do estado. Schirmer, um dos mais respeitados fotógrafos do Rio Grande do Sul, era conhecido por seu olhar apurado e sensibilidade. Derkin era um especialista em fotojornalismo esportivo e adorava fazer caricaturas, e Guimarães era um mestre em retratar a vida cotidiana dos porto-alegrenses. O Santinho, era um fotógrafo popular que tinha um talento especial para captar o humor e a ironia da vida urbana.

A redação da sucursal era composta por jornalistas experientes e talentosos. O chefe era o Tito Tajes. André Jockman, era um jornalista respeitado por sua integridade e profissionalismo. Paulo Gerson Antunes de Oliveira, o chefe de reportagem, era um jornalista dinâmico e criativo. José Adaltho de Vasconcellos, o repórter especial, era um especialista em política. Félix Valente, o repórter de polícia, era um jornalista corajoso e comprometido. Enio Staub, o repórter de economia, era um jornalista experiente e competente. José Zulian, o repórter de esportes, era um apaixonado pelo futebol. Valci Zucoloto, a repórter, era uma jornalista antenada com as tendências. Higino Barros era  habilidoso e criativo.


Eloy Figueiredo e José Figueiredo

 Figueiredo 
sucursal de Porto Alegre de O Globo

Eloy Figueiredo
André Jockmann na primeira Fenachamp

Eloy Figueiredo
O Globo

Dr. Rogério Marinho, governador Amaral de Souza, Tito Tajes, eu e Setembrino Machado.  




sábado, agosto 22, 2015

editora expressão




       


A Editora Expressão, fundada em 1990, buscava preencher lacunas na cobertura nacional, destacando-se por suas publicações pioneiras no Sul do Brasil. Notavelmente, o Guia de Sustentabilidade, incluindo o premiado Prêmio Expressão de Ecologia desde 1993, reconhecido como o principal do país no setor empresarial, certificado pelo Ministério do Meio Ambiente.


segunda-feira, fevereiro 20, 2012

SOBREVIVI




Quando criei este blog, pensei que não haveria retorno para mim. Apenas quem viveu o que eu vivi pode afirmar com certeza: a vida é linda! A intenção era compartilhar experiências reais, algumas tão surreais que pareciam "viagens", narradas para aqueles que viriam depois de mim.


No entanto, ao descobrir que minha vida continuaria, interrompi as publicações para preservar minha imagem da saga de "Jesus me disse". Guardo relatos para compartilhar com amigos, ex-amigos e aqueles que planejo reencontrar, buscando perdão e evitando ferir qualquer ser novamente. Pessoas que contribuíram para minha jornada terrena, como a trama da TV Cabo, o cachimbo do Acari Amorim, Zuba Coutinho da revista *Expressão*, Olívio Lamas, Carlão do *JB*, o presidente Collor, Ademar Bem Johnson, Zé Netto do *DC*, Gerson Schirmer no Canto da Lagoa, Eduardo Paredes, em uma viagem com Jesus na Lagoa, Marco Cezar da *Mural*, o delegado Eloy, entre outros grandes amigos.


Quem sabe? Talvez uma nova fase mais animada esteja por vir.

25/10/2005





Ilha das Flores
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