O Peso
Morro da Lagoa da Conceição – Agosto de 2003
Ficção: Viagens na Maionese: Memórias de uma Vida em Transformação Um mergulho profundo nas experiências que moldaram minha vida, narrando histórias de mudanças, desafios e descobertas. Em cada capítulo, você encontrará uma jornada única, refletindo as nuances e complexidades de uma existência em constante evolução. Essas memórias, entrelaçadas com toques de fantasia e realidade
O Peso
Morro da Lagoa da Conceição – Agosto de 2003
Quando via um gaudério sem rumo,
pensava: por que andará assim,
perdido nesses pagos,
como um cusco sem dono?
Eles apeiam do baio,
procuram uma sombra tranquila,
amarram o cavalo e, só então,
se achegam ao bolicho.
Batendo na aba do chapéu, gritam:
"Ó de casa, posso me achegar?"
Essa é a senha do cheiro
do mate amargo que sentem no ar.
Queimados de sol,
com a pele seca como cobra
lagarteando nas manhãs,
falam pouco
quase sempre só para se apresentar:
"Sou de Palmeira das Missões,
mas toco boiada
pelas bandas do Uruguai."
Quando encontram uma chinoca
nos fandangos da vida,
uma coisa é certa:
não deixam que toquem suas cabeças.
Receiam sentir-se como um Pierrô abandonado,
abanando o rabo na solidão.
Vai, gaudério!
Foge do teu destino,
cavalgando nas noites de vento minuano,
sob um céu coberto de estrelas.
Se o destino chegar primeiro,
que ninguém saiba o que aconteceu,
nem por onde andou
este pobre desgarrado.
Jesus me disse que acordou assustado, com uma dor de cabeça insuportável e louco de sede em um lugar horrível, escuro, iluminado por uma lâmpada muito fraca, esfumaçado e fedorento. Viu que havia outros homens, aparentemente mendigos, maltrapilhos e desgraçados. Aos poucos, percebeu que estava em uma cela de um presídio. Não conseguia compreender nada, tudo era confuso.
Não te sinta vencido a nenhum vencido
Nem te sinta escravo de outro escravo.
Tremendo de pavor, sinta-se bravo e arremete mesmo que ferido.
Proceda como Deus que nunca chora ou como lúcifer que nunca reza. Ou como o Carvalho que com sua grandeza necessita de água mas não implora!
Tenha a sagacidade de um prego enferrujado que mesmo velho e torto, volta a ser prego.
Não se acovarde como o pavão que encolhe sua penagem ao menor ruído.
Morda, grite, vocifere bravamente, mesmo rolando pelo chão sua cabeça!
- um dia escutei, gravei e divido com vocês!