Ficção: Viagens na Maionese: Memórias de uma Vida em Transformação Um mergulho profundo nas experiências que moldaram minha vida, narrando histórias de mudanças, desafios e descobertas. Em cada capítulo, você encontrará uma jornada única, refletindo as nuances e complexidades de uma existência em constante evolução. Essas memórias, entrelaçadas com toques de fantasia e realidade
segunda-feira, outubro 03, 2016
quinta-feira, setembro 29, 2016
Ernesto Meyer Filho/JB
Conheci Mayer Filho, um artista extremamente fascinante, enquanto trabalhava na sucursal do Jornal do Brasil em Florianópolis. Passamos diversas tardes tomando chopp juntos e discutindo animadamente suas teorias sobre a existência de vida em outros planetas, sempre no balcão do Box 32 do mercado público.
Ernesto Meyer Filho. By Eloy Figueiredo.
terça-feira, outubro 13, 2015
O Globo
A vibrante sucursal do Jornal O Globo, no 2º andar do edifício do Relógio na Rua da Praia esquina com a rua da Ladeira, era um microcosmo da cidade de Porto Alegre. A equipe, formada por jornalistas, fotógrafos e o comercial com Setembrino Machado era composta por pessoas de diferentes origens e experiências, que trabalhavam juntas para produzir um jornalismo de qualidade.
Os fotógrafos Gerson Schirmer, Baru Derkin, Eduardo Guimarães e o Santinho eram responsáveis por registrar os acontecimentos do estado. Schirmer, um dos mais respeitados fotógrafos do Rio Grande do Sul, era conhecido por seu olhar apurado e sensibilidade. Derkin era um especialista em fotojornalismo esportivo e adorava fazer caricaturas, e Guimarães era um mestre em retratar a vida cotidiana dos porto-alegrenses. O Santinho, era um fotógrafo popular que tinha um talento especial para captar o humor e a ironia da vida urbana.
A redação da sucursal era composta por jornalistas experientes e talentosos. O chefe era o Tito Tajes. André Jockman, era um jornalista respeitado por sua integridade e profissionalismo. Paulo Gerson Antunes de Oliveira, o chefe de reportagem, era um jornalista dinâmico e criativo. José Adaltho de Vasconcellos, o repórter especial, era um especialista em política. Félix Valente, o repórter de polícia, era um jornalista corajoso e comprometido. Enio Staub, o repórter de economia, era um jornalista experiente e competente. José Zulian, o repórter de esportes, era um apaixonado pelo futebol. Valci Zucoloto, a repórter, era uma jornalista antenada com as tendências. Higino Barros era habilidoso e criativo.
Figueiredo
sucursal de Porto Alegre de O Globo
André Jockmann na primeira Fenachamp
Eloy Figueiredo
O Globo
sábado, agosto 22, 2015
editora expressão
A Editora Expressão, fundada em 1990, buscava preencher lacunas na cobertura nacional, destacando-se por suas publicações pioneiras no Sul do Brasil. Notavelmente, o Guia de Sustentabilidade, incluindo o premiado Prêmio Expressão de Ecologia desde 1993, reconhecido como o principal do país no setor empresarial, certificado pelo Ministério do Meio Ambiente.
segunda-feira, dezembro 05, 2011
CARTEIRA DE MOTORISTA.
Não quero, nem de longe, ter a pretensão de pensar que posso comparar o que sinto aos sentimentos de escritores ou compositores. Porém, assemelho-me numa característica dos mesmos, quando escrevem ou falam que precisam dar vida (e sentido) às historias que lhes chegam, prontinhas, esperando para serem compartilhadas. Elas precisam sair, elas pedem para serem colocadas pra fora, pulsam dentro da gente. Isto é o que sinto quando uma historinha chega pedindo para ser mostrada. Vou libertar esta, que já esta há algum tempo pedindo para que outra chegue em seu lugar!
A viagem aconteceu numa sexta-feira 13, em agosto de 1974 - sei o dia e ano, pois foi neste dia que eu tirei minha carteira de habilitação.
Uma das primeiras cidades catarinense que conheci trabalhando foi Joinville. Trabalhava numa edição pioneira de turismo da revista Programa fora de Porto Alegre. Neste ano eu já tinha carro, e dirigia já há alguns anos sem carteira de motorista. As repartições públicas nesta época davam até medo de entrar: eram cabide de empregos dos filhotes da ditadura militar - muito mais corruptos do que agora. Só tinha bandido e gente que só funcionava a base da corrupção. Negava-me a corromper os caras do DETRAN, reacionários, dedos-duros, a maioria bandidos. Não gostava de funcionário públicos, aquilo não cheirava bem.
Bueno, o diretor da revista, ficou sabendo que eu não tinha habilitação e comunicou que só seguiriam com quem estivesse com os documentos pessoais e do carro com tudo em cima. Eu tinha três dias para conseguir minha carteira. Fui pra Canoas onde era mais fácil. Fiz exames da legislação, paguei taxas e guias com tudo andando bem com os argumentos da viagem que eu tanto precisava ir. Imaginem só, a BR 101 neste ano... A maioria dos trechos era de paralelepípedos até Florianópolis, portanto tínhamos que ficar lá por no mínimo 1 mês.
Estava dando tudo certo até chegar a sexta-feira 13 de agosto de 1974. O exame agora era de direção e dentro do carro estava o fiscal de transito com cara de quem comeu e não gostou. “Parar na lomba, seta direita, esquerda, ok!”, anotou ele na papelada que trazia presa numa prancheta. Quando retornamos ao pátio do DETRAN para fazer a ultima prova, a baliza, notei que tinha um carro grande antes do meu (não lembro se era um Sinca ou um Aero, mas o meu era um Fuscão 1500 74 com surdina Kadrom e rodas de talas- largas, zero bala!). Entrei pela direita na baliza e derrubei. O Cara de Quem Comeu e Não Gostou anotou alguma coisa. Fiz a baliza pela esquerda e derrubei novamente. Desci do carro protestando por eles terem fechado a baliza um pouco mais, alegando que os automóveis da frente eram maiores do que o meu Fuscão. Sentenciou o Cara de Quem Comeu e Não Gostou: “Volta em quarenta e cinco dias para outra oportunidade”. E foi se encaminhando para um trailer onde senti que o pedido de grana se daria ali. Fui tentando mostrar a ele o quanto esta carteira era importante pra mim, pra minha mãe, minha esposa, meus filhinhos, o cachorro e tudo mais... Eu precisava da carteira pra já!
Chegamos no trailer. Ele pediu uma Pepsi e eu uma Brahma. Neste momento entra um menino de uns doze anos, engraxate. Ele senta na caixa, virado para o Cara de Quem Comeu e Não Gostou e oferece: “Uma escovadinha ai, moço?”. Ele colocou o pé para o menino escovar e eu aproveitei, tirei todo o dinheiro já separado para corrompê-lo e ofereci para o engraxate: “Te dou todo este dinheiro se tu convencer este fiscal a me dar a minha carteira!” Os olhos do menino brilharam e ele, já começando a chorar, implorou: “Dá a carteira pra ele moço, dá...” Neste momento, o Cara de Quem Comeu e Não Gostou deu a minha carteira! Dei o dinheiro para o engraxate que ficou a mil pelo Brasil e eu também. Acho que até o “cara” ficou emocionado!
quinta-feira, julho 15, 2010
a marca "Jornal do Brasil".
segunda-feira, janeiro 01, 2007
Guerra no Rio Guaíba.
O lago da Redenção já era pequeno demais para minhas aventuras náuticas, e, além disto, descobri que o seu Zé alugava barcos no rio Guaíba sem nenhuma exigência, então passei olhar as ilhas em frente do bairro Alto da Bronze como terras a serem conquistadas. Só tinha um problema... O dinheiro para o aluguel do barco ali era bem mais caro que os da Redenção.
Eu estava decidido a embarcar numa aventura até a ilha mais próxima e para isto comecei uma pesquisa no Colégio Paula Soares onde estudava, na 4º serie. Foquei um guri que poderia financiar esta empreitada. Notava que ele sempre andava com um bom corte de cabelos, boas roupas e um sorriso que ele não tirava do rosto nem mesmo brabo, via também que as professoras lhe dedicavam total atenção e às vezes ele era buscado de automóvel no colégio. No colégio nós éramos amigos, mas só no colégio. Nunca via ele na rua ou na pracinha com alguma turma de guris, mas ele tinha uma cara boa de gente legal e foi por isto que o convidei para esta primeira aventura, uma conquista da ilha pequena e ele topou na hora. Só tinha um problema: ele era de uma espécie de guri rico e bem cuidado. Depois vim saber que ele era mesmo. Filho único no meio de cinco irmãs mais duas mães. Eu ainda não sabia que as pessoas se separavam. Ele foi o primeiro guri que conheci filho de pais separados. Para começar eu teria que ir até sua casa pedir permissão para seus pais - coisa estranha, eu saia à hora que queria depois das aulas e meus amigos também, imaginava que todo mundo era assim como eu.
No dia combinado fui eu e meu irmão mais novo, Zezinho, até o amplo apartamento no edifico GBOEx, onde ele morava pedir permissão e mentir para ele ir comigo andar de barco na Redenção.
Fui interrogado pela sua madrasta durante vários minutos, ela fazia questão de me mostrar o quanto valia aquele guri e isto quase me fez desistir da aventura no rio e ir com aquele príncipe (cara ele tinha) pra redenção.
Eu falei:
- Eu me responsabilizo por qualquer coisa que poderá vir a acontecer com ele.
Ela então falou:
- Quer dizer se acontecer do André (Jockyman, filho do Sérgio, um dos maiores e melhor jornalista que já conheci) morrer, você vai me dar um outro André?
Aí me dei conta da enorme responsabilidade, pensei:
“Puta que pariu... que fria estão me metendo”.
Depois de meia hora de recomendações, para a minha surpresa e angústia, ela concordou. Agora era eu que não mais queria ir ao rio e sim remar no lago da redenção, mas o André e o meu irmão não quiseram aceitar as mudanças de planos. Já de cara comecei a me preocupar para atravessar as ruas quase pegando ele pelas mãos que ele soltava querendo mostrar rebeldia. Logo eu, que nunca me preocupava com nada até este dia.
Ele e meu irmão iam correndo na frente como cachorrinhos de apartamentos e eu atrás com o coração na mão:
- Cuidado com o bonde, olha os carros, meu Deus!
Fui interrogado pela sua madrasta durante vários minutos, ela fazia questão de me mostrar o quanto valia aquele guri e isto quase me fez desistir da aventura no rio e ir com aquele príncipe (cara ele tinha) pra redenção.
Eu falei:
- Eu me responsabilizo por qualquer coisa que poderá vir a acontecer com ele.
Ela então falou:
- Quer dizer se acontecer do André (Jockyman, filho do Sérgio, um dos maiores e melhor jornalista que já conheci) morrer, você vai me dar um outro André?
Aí me dei conta da enorme responsabilidade, pensei:
“Puta que pariu... que fria estão me metendo”.
Depois de meia hora de recomendações, para a minha surpresa e angústia, ela concordou. Agora era eu que não mais queria ir ao rio e sim remar no lago da redenção, mas o André e o meu irmão não quiseram aceitar as mudanças de planos. Já de cara comecei a me preocupar para atravessar as ruas quase pegando ele pelas mãos que ele soltava querendo mostrar rebeldia. Logo eu, que nunca me preocupava com nada até este dia.
Ele e meu irmão iam correndo na frente como cachorrinhos de apartamentos e eu atrás com o coração na mão:
- Cuidado com o bonde, olha os carros, meu Deus!
Quando chegamos para escolher o barco, escolhi o mais largo e com melhor estabilidade, porem ele era pesado e lento, mas sabia que este não viraria.
Notei quando estávamos chegando ao velho Zé que a turma da Rua Demetrio Ribeiro tinha seu próprio barco, e todos estavam soltando rojões na água e fazendo uma enorme algazarra, alguns mergulhando e dando caldinho nos guris menores e os outros em pé dentro do barco mostravam destreza e velocidade no remo.
O André sentou na proa e meu irmão na popa enquanto eu sentei no meio, no lugar dos remos sob protestos dos dois.
Eu já tínha remado um quinhetos metros da margem e vi que entrava água pelas frestas mal calafetadas do barco e por isto já tinha duas latinhas estrategicamente posicionadas para ir tirando a água de dentro. Isto achei normal.
Então... vi a turma da Demetrio Ribeiro se aproximar velozmente em nossa direção, atirando rojões às gargalhadas. Foi quando um dos rojões caiu dentro do nosso barco fazendo ele se estremecer todo, quase rachando suas tabuas velhas e frágeis.
Reconheci o alemão Edson, seu irmão Lauro, o Cadico, e o “traidor” Martelinho, morador da Rua Fernando Machado que estava nos remos rindo e fazendo a maior força. Eu ameacei de quebrar suas caras se eles continuassem. Ai mesmo que eles riam mais e jogavam mais rojões. Pedi que meus marujos:
- Tirem à água do barco, tirem à água...
A água já estava tapando nossos pés e isso me deixava aflito: o que fazer se o barco afundasse com aquele principe dentro dele? Eu daria outro André à madrasta? O suor escorria no meu rosto naquela tensão da guerra de barcos, que mais parecia um filme de piratas com canhões e espadas. Enquanto os piratas liderados por alemão Edson com sua cara de mal e um dente de ouro exposto pelo sorriso cínico, bombardeavam meu navio. E eu dizia: "Continuem tirando a água!", mais aflito do que nunca. Foi então que decidi lutar de frente para proteger o principe André. Me levantei e peguei o meu remo-espada, que serviu para que eu rebatesse as fortes e pesadas balas de canhão. Rebati uma, duas, três, até que o capitão pirata deixasse de sorrir. Mas mesmo com uma pequena vantagem, meu navio era muito fraco e a água, apesar do empenho de meus marujos, já estava nas nossas canelas. Olhei para margem e vi o velho Zé que vinha gritando e remando em nossa defesa da guerra. Os meus tripulantes estavam paralisados de medo, mas, mesmo assim, o André continuava com seu sorriso de Curinga. Foi então que, felizmente, percebemos que a correnteza estava à nosso favor. Percebi que o navio pirata deles estava ficando de lado para o nosso. Apesar de ser mais fraco, o meu navio era maior que o deles e, com isso, empurramos com toda a força o nosso contra o deles. O gigantesco navio pirata vacilou na água, e, logo depois, virou, para nossa felicidade e desespero da turma da Demetrio Ribeiro, que ficaram agarrados ao navio e assustados com os corpos dentro do rio.
Logo me dispersei da minha "viagem" de filme e, aliviado, vi que meus tripulantes marujos estavam salvos. Foi aí que eu vi o velho Zé, que chegou ralhando com eles. Fomos rebocados pelo barco do velho, já que o nosso ficou à deriva com água que já cobria nossas canelas, mas contentes e felizes como todos os vencedores.
Anos depois nos encontramos por acaso, na combatente e vibrante sucursal do Jornal O Globo, no 2º andar do edifício do Relógio na Rua da Praia. Lá trabalhamos juntos por vários anos, eu como representante do Dr. Roberto Marinho, ele na redação e o Zezinho, meu irmão, como motorista e distribuidor do jornal em Porto Alegre.
Notei quando estávamos chegando ao velho Zé que a turma da Rua Demetrio Ribeiro tinha seu próprio barco, e todos estavam soltando rojões na água e fazendo uma enorme algazarra, alguns mergulhando e dando caldinho nos guris menores e os outros em pé dentro do barco mostravam destreza e velocidade no remo.
O André sentou na proa e meu irmão na popa enquanto eu sentei no meio, no lugar dos remos sob protestos dos dois.
Eu já tínha remado um quinhetos metros da margem e vi que entrava água pelas frestas mal calafetadas do barco e por isto já tinha duas latinhas estrategicamente posicionadas para ir tirando a água de dentro. Isto achei normal.
Então... vi a turma da Demetrio Ribeiro se aproximar velozmente em nossa direção, atirando rojões às gargalhadas. Foi quando um dos rojões caiu dentro do nosso barco fazendo ele se estremecer todo, quase rachando suas tabuas velhas e frágeis.
Reconheci o alemão Edson, seu irmão Lauro, o Cadico, e o “traidor” Martelinho, morador da Rua Fernando Machado que estava nos remos rindo e fazendo a maior força. Eu ameacei de quebrar suas caras se eles continuassem. Ai mesmo que eles riam mais e jogavam mais rojões. Pedi que meus marujos:
- Tirem à água do barco, tirem à água...
A água já estava tapando nossos pés e isso me deixava aflito: o que fazer se o barco afundasse com aquele principe dentro dele? Eu daria outro André à madrasta? O suor escorria no meu rosto naquela tensão da guerra de barcos, que mais parecia um filme de piratas com canhões e espadas. Enquanto os piratas liderados por alemão Edson com sua cara de mal e um dente de ouro exposto pelo sorriso cínico, bombardeavam meu navio. E eu dizia: "Continuem tirando a água!", mais aflito do que nunca. Foi então que decidi lutar de frente para proteger o principe André. Me levantei e peguei o meu remo-espada, que serviu para que eu rebatesse as fortes e pesadas balas de canhão. Rebati uma, duas, três, até que o capitão pirata deixasse de sorrir. Mas mesmo com uma pequena vantagem, meu navio era muito fraco e a água, apesar do empenho de meus marujos, já estava nas nossas canelas. Olhei para margem e vi o velho Zé que vinha gritando e remando em nossa defesa da guerra. Os meus tripulantes estavam paralisados de medo, mas, mesmo assim, o André continuava com seu sorriso de Curinga. Foi então que, felizmente, percebemos que a correnteza estava à nosso favor. Percebi que o navio pirata deles estava ficando de lado para o nosso. Apesar de ser mais fraco, o meu navio era maior que o deles e, com isso, empurramos com toda a força o nosso contra o deles. O gigantesco navio pirata vacilou na água, e, logo depois, virou, para nossa felicidade e desespero da turma da Demetrio Ribeiro, que ficaram agarrados ao navio e assustados com os corpos dentro do rio.
Logo me dispersei da minha "viagem" de filme e, aliviado, vi que meus tripulantes marujos estavam salvos. Foi aí que eu vi o velho Zé, que chegou ralhando com eles. Fomos rebocados pelo barco do velho, já que o nosso ficou à deriva com água que já cobria nossas canelas, mas contentes e felizes como todos os vencedores.
Anos depois nos encontramos por acaso, na combatente e vibrante sucursal do Jornal O Globo, no 2º andar do edifício do Relógio na Rua da Praia. Lá trabalhamos juntos por vários anos, eu como representante do Dr. Roberto Marinho, ele na redação e o Zezinho, meu irmão, como motorista e distribuidor do jornal em Porto Alegre.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
Doca das Frutas.
Não lembro mais o nome da comunidade que ficava do outro lado da rua Washington Luiz, para quem descia pela Gen. Portinho até a beira do rio Guaíba. Ali morava o velho Zé, um gaúcho calmo e pescador, que também alugava barcos para passeios. Ele estava sempre de bombachas camisa branca aberta e com um cinto largo e uma faca atravessada nas costa, com bainha de prata toda trabalhada, que com ela ficava picando fumo de ramo com um pé no barco e o olhar perdido no horizonte.
Um dia um outro morador um negão forte pra cacete, completamente bêbado se aproximou do velho Zé e deu um violento soco em sua cara. O velho Zé, antes de cair no chão, sacou rapidamente a faca da cintura e num golpe de cima para baixo abriu o peito forte do negão que ficou surpreso com a velocidade do golpe. A coisa mais feia que já tinha visto até aquele dia. O agressor arquejando em pé com um enorme talho no peito que deixava ver seu coração batendo por traz das costelas, e ele com olhos arregalados com aquela reação do velho Zé que além de velhinho era também bem magrinho, mas ligeiro como um raio.
Antes das dragas começarem o aterro onde hoje é o colégio Parobé, a gurizada fazia uma vaquinha na pracinha da Bronze, e ia até as Docas das Frutas, onde os barcos ficavam atracados no porto em frente do Pão dos Pobres, vendendo todos os tipos de frutas que vinha das chácaras pelos lados da Serraria e de Belém Novo. Comprávamos meio cento de bergamota e voltávamos pela beira do rio descascando e colocando as casacas entre os dedos, jogando-as como bumerangues ou helicópteros. Era mais brincadeira do que vontade de comê-las.
Nesta mesma época das bergamotas, as vezes levávamos rojões e íamos jogando dentro do rio para ver espalhar água. Nossa prática era mais ou menos assim: acendíamos os rojões, contávamos até cinco e atirávamos na água.
Um dia o Alfeu errou nas contas e ele explodiu em sua mão, a mão do Alfeu ficou como estas luvas cirúrgicas quando se começa a encher. Parecia um balão. Me parece que ele quebrou vários dedos, não lembro bem...
Mas a história que quero contar mesmo foi da Guerra no Rio Guaíba, entre eu e mais dois contra a turma da Rua Demetrio Ribeiro...
Aguardem...
Um dia um outro morador um negão forte pra cacete, completamente bêbado se aproximou do velho Zé e deu um violento soco em sua cara. O velho Zé, antes de cair no chão, sacou rapidamente a faca da cintura e num golpe de cima para baixo abriu o peito forte do negão que ficou surpreso com a velocidade do golpe. A coisa mais feia que já tinha visto até aquele dia. O agressor arquejando em pé com um enorme talho no peito que deixava ver seu coração batendo por traz das costelas, e ele com olhos arregalados com aquela reação do velho Zé que além de velhinho era também bem magrinho, mas ligeiro como um raio.
Antes das dragas começarem o aterro onde hoje é o colégio Parobé, a gurizada fazia uma vaquinha na pracinha da Bronze, e ia até as Docas das Frutas, onde os barcos ficavam atracados no porto em frente do Pão dos Pobres, vendendo todos os tipos de frutas que vinha das chácaras pelos lados da Serraria e de Belém Novo. Comprávamos meio cento de bergamota e voltávamos pela beira do rio descascando e colocando as casacas entre os dedos, jogando-as como bumerangues ou helicópteros. Era mais brincadeira do que vontade de comê-las.
Nesta mesma época das bergamotas, as vezes levávamos rojões e íamos jogando dentro do rio para ver espalhar água. Nossa prática era mais ou menos assim: acendíamos os rojões, contávamos até cinco e atirávamos na água.
Um dia o Alfeu errou nas contas e ele explodiu em sua mão, a mão do Alfeu ficou como estas luvas cirúrgicas quando se começa a encher. Parecia um balão. Me parece que ele quebrou vários dedos, não lembro bem...
Mas a história que quero contar mesmo foi da Guerra no Rio Guaíba, entre eu e mais dois contra a turma da Rua Demetrio Ribeiro...
Aguardem...
sábado, outubro 21, 2006
GUARDA DE TRÂNSITO
Em 1966 fomos morar na Avenida Prótasio Alves, 5567, no edifício Pioneiro. Confesso que foi um choque já que morávamos no centro (Alto da Bronze) e fomos para um bairro que na época era quase todo mato, dos dois lados, descendo a Prótasio passando para o outro lado da avenida Carlos Gomes, e lá não existia nada. Petrópolis era até o fim da linha do Bonde, que ficava em frente do cine Atlas, então, não sabia muito bem o bairro que morávamos: se era Petrópolis, Vila Jardim, Bom Jesus, Chácara das Pedras ou Paineira. Este último era o nome que eu mais gostava. Em frente deste edifício, os moradores mais jovens se reuniam principalmente nos fim de semana escutar a Rádio Continental, para curtir Elvis, Little Richard, Chuck Berry, Beatles, Rolling Stone, Roberto Carlos, Wanderléia, Jerry Adriani, Os Mutantes e o Renato & Seus Blue Caps, era o nosso primeiros contato com o Rock 'n Roll. Este era o ano da grande transformação planetária, a partir desta década nunca mais o mundo foi o mesmo. Ficávamos ali mostrando nossas roupas “da hora”, botinhas Calhambeque, pulseiras e anéis com os brucutus dos Fuscas, calças boca-de-sino de duas cores e camisas com as golas altíssimas que minha mãe costurava para gurizada. Colocávamos o toca-discos portátil em formato de maletinha com um grande auto-falante na tampa ou o potente rádio portátil do Dinarte Jackes, um dos “magrinhos” do grupo. Aliás, o nome da turma era a Turma dos Magrinhos. Já éramos olhados como:
- Estes cabeludos... todos maconheiros...
Um dia, encontrei perdido o apito do guarda noturno do Pioneiro. O guarda era o seu Albino, um velho e magro gauchão, ex-policial de trânsito que vivia com sua capa azul marinho de lã, cobrindo até os pés, um bigodão amarelado pelos palheiros fumados e um relho de nervo de pênis de cavalo na mão. Eu comecei a brincar com o apito como se fosse um guarda de trânsito, e, nesta mesma hora, passou um Jipe preto-e-branco (quero-quero) da Policia Civil e eu apitei para eles. Eles pararam e foi uma gargalhada geral, todo mundo riu, até quem não estava no grupo. A polícia nesta época era temida, caía sobre o Brasil neste ano nuvens escuras terríveis da Ditadura Militar. Continuamos brincando todos ali e quando menos esperávamos, eles surgiram: um veio a pé por trás e o outro chegou de Jipe com os faróis altos em nossa direção. Automaticamente joguei o apito no chão, eles chegaram com os revolveres na mão gritando e dando pontapés:
- Todo mundo com as mãos na parede, mãos na parede!!!
Enquanto um dava uma geral em todos encostados com as mãos na parede, o outro perguntava quem era o guarda de trânsito. Ninguém dizia nada. Éramos uns oito, com idades que variavam entre 13 e 16 anos. Eles falaram:
- Já que ninguém quer dizer quem estava apitando vai todo mundo preso!
Abriram a porta do camburão atrás e fomos entrando todos. Aí, os menores começaram chorar dizendo para os policiais: "Foi este aqui seu guarda, foi este aqui..." apontando pra mim. Eles ficaram putos e responderam:
- Já que não falaram quando perguntei agora vão todos em cana!
Foi a maior choradeira dos pequenos. Fomos levados presos para a famosa 8º delegacia, tida como torturadora. Sabia-se que o torturador era praticante de luta livre, o Jangada, um cara que pesava mais de 120 kg. Ele perguntou para os guardas que nós prenderam quem era o guarda de trânsito, sentado atrás de uma escrivaninha. Me empurraram para frente daquele monstro com uma cara de mau que me falou segurando uma palmatória:
- Bota este apito na boca e fica apitando até que eu bata nesta mesa para tu parar, se tu parar antes eu não vou bater na mesa, eu vou bater em ti!!! Vai, começa!!!
Magrinho... fui salvo por minha irmã, a Clara, que entrava na delegacia junto com um monte de mães e pais apavorados para nós tirarem de lá. Os guris menores choravam abraçados em seus pais... Depois de tudo explicado eles iam embora um de cada vez, a bomba sobrou pra mim que tomei o maior esculacho do Jangada, e fui o último a sair da delegacia.
- Estes cabeludos... todos maconheiros...
Um dia, encontrei perdido o apito do guarda noturno do Pioneiro. O guarda era o seu Albino, um velho e magro gauchão, ex-policial de trânsito que vivia com sua capa azul marinho de lã, cobrindo até os pés, um bigodão amarelado pelos palheiros fumados e um relho de nervo de pênis de cavalo na mão. Eu comecei a brincar com o apito como se fosse um guarda de trânsito, e, nesta mesma hora, passou um Jipe preto-e-branco (quero-quero) da Policia Civil e eu apitei para eles. Eles pararam e foi uma gargalhada geral, todo mundo riu, até quem não estava no grupo. A polícia nesta época era temida, caía sobre o Brasil neste ano nuvens escuras terríveis da Ditadura Militar. Continuamos brincando todos ali e quando menos esperávamos, eles surgiram: um veio a pé por trás e o outro chegou de Jipe com os faróis altos em nossa direção. Automaticamente joguei o apito no chão, eles chegaram com os revolveres na mão gritando e dando pontapés:
- Todo mundo com as mãos na parede, mãos na parede!!!
Enquanto um dava uma geral em todos encostados com as mãos na parede, o outro perguntava quem era o guarda de trânsito. Ninguém dizia nada. Éramos uns oito, com idades que variavam entre 13 e 16 anos. Eles falaram:
- Já que ninguém quer dizer quem estava apitando vai todo mundo preso!
Abriram a porta do camburão atrás e fomos entrando todos. Aí, os menores começaram chorar dizendo para os policiais: "Foi este aqui seu guarda, foi este aqui..." apontando pra mim. Eles ficaram putos e responderam:
- Já que não falaram quando perguntei agora vão todos em cana!
Foi a maior choradeira dos pequenos. Fomos levados presos para a famosa 8º delegacia, tida como torturadora. Sabia-se que o torturador era praticante de luta livre, o Jangada, um cara que pesava mais de 120 kg. Ele perguntou para os guardas que nós prenderam quem era o guarda de trânsito, sentado atrás de uma escrivaninha. Me empurraram para frente daquele monstro com uma cara de mau que me falou segurando uma palmatória:
- Bota este apito na boca e fica apitando até que eu bata nesta mesa para tu parar, se tu parar antes eu não vou bater na mesa, eu vou bater em ti!!! Vai, começa!!!
Magrinho... fui salvo por minha irmã, a Clara, que entrava na delegacia junto com um monte de mães e pais apavorados para nós tirarem de lá. Os guris menores choravam abraçados em seus pais... Depois de tudo explicado eles iam embora um de cada vez, a bomba sobrou pra mim que tomei o maior esculacho do Jangada, e fui o último a sair da delegacia.
domingo, agosto 20, 2006
Revolução Cubana: por Jorge Fischer Nunes
Jorge Fischer tinha quase dois metros de altura e era forte e calmo como um touro - por isso era da Policia de Choque, que ficava ali na Rua Riachuelo com a General Portinho, até se tornar subversivo, preso e torturado.
Nas aulas de tortura que os americanos sinistros vieram ministrar para o pessoal do DOI-CODI, numa espécie de “mestrado” da Policia do Exercito Brasileiro, uma das principais aulas era a aula-prática de choque.
Com medo de matar alguém acidentalmente, mandaram chamar o Fischer na prisão da Ilha das Pedras, já que ele era grande e forte, e, por isso, mais “resistente”. Ele me disse que os policiais deixaram-no nu, amarrado, deitado sobre uma mesa com braços e pernas abertos, num auditório de aula com todos os alunos torturadores sentados e concentrados, anotando cada detalhe que eles achavam mais importante. Então começou a demonstração: primeiro choque nas orelhas, depois nos mamilos e por ultimo nos testículos. Isto e muito mais ele contou em seu livro, “O Riso dos Torturados”.
Fischão, como também era conhecido pelos amigos, ria de tudo e gostava de contar causos de políticos safados, militares cagões, burgueses nojentos e revolucionários desbundados, como este, que ele me contou numa de uma de nossas “viagens”, o causo da Revolução Cubana.
Na libertação de Cuba do grande Império, os revolucionários não tinham muita experiência na lida de uma nação, já que a burguesia que detinha a mão-de-obra especializada (Industriais, comerciantes, médicos, jornalistas, cientistas, agrônomos etc.) fugiram como puderam do paredão para Miami.
No interior da ilha de Fidel, os revolucionários entraram numa fazenda de pesquisa de matrizes de animais valiosíssimos que acabaram de expropriarem.
Como tinham que assumir o controle da mesma e seguirem em frente, o capitão perguntou se alguém ali tinha conhecimento de fazenda de criação de gado. Quem mais conhecia era um sapateiro, que trabalhava com pedaços de couro, e, por isso, assumiu a administração da fazenda. Logo que assumiu, encontrou uma matriz de boi (valia bem mais do que 80 mil dólares), mastigando calmamente um pouco de palha especial, deitado sobre uma serragem de um pinheiro de cheiro perfumado, num establo com ar-condicionado, ambiente com luminação apropriada, água fresquinha e tratada, shampoo, óleos para massagem que tem um efeito estético. O boi fica com uma aparência melhor porque a massagem reduz as gorduras localizadas. Enfim, é cuidado com o maior mimo por equipe de várias pessoas.
Nas aulas de tortura que os americanos sinistros vieram ministrar para o pessoal do DOI-CODI, numa espécie de “mestrado” da Policia do Exercito Brasileiro, uma das principais aulas era a aula-prática de choque.
Com medo de matar alguém acidentalmente, mandaram chamar o Fischer na prisão da Ilha das Pedras, já que ele era grande e forte, e, por isso, mais “resistente”. Ele me disse que os policiais deixaram-no nu, amarrado, deitado sobre uma mesa com braços e pernas abertos, num auditório de aula com todos os alunos torturadores sentados e concentrados, anotando cada detalhe que eles achavam mais importante. Então começou a demonstração: primeiro choque nas orelhas, depois nos mamilos e por ultimo nos testículos. Isto e muito mais ele contou em seu livro, “O Riso dos Torturados”.
Fischão, como também era conhecido pelos amigos, ria de tudo e gostava de contar causos de políticos safados, militares cagões, burgueses nojentos e revolucionários desbundados, como este, que ele me contou numa de uma de nossas “viagens”, o causo da Revolução Cubana.
Na libertação de Cuba do grande Império, os revolucionários não tinham muita experiência na lida de uma nação, já que a burguesia que detinha a mão-de-obra especializada (Industriais, comerciantes, médicos, jornalistas, cientistas, agrônomos etc.) fugiram como puderam do paredão para Miami.
No interior da ilha de Fidel, os revolucionários entraram numa fazenda de pesquisa de matrizes de animais valiosíssimos que acabaram de expropriarem.
Como tinham que assumir o controle da mesma e seguirem em frente, o capitão perguntou se alguém ali tinha conhecimento de fazenda de criação de gado. Quem mais conhecia era um sapateiro, que trabalhava com pedaços de couro, e, por isso, assumiu a administração da fazenda. Logo que assumiu, encontrou uma matriz de boi (valia bem mais do que 80 mil dólares), mastigando calmamente um pouco de palha especial, deitado sobre uma serragem de um pinheiro de cheiro perfumado, num establo com ar-condicionado, ambiente com luminação apropriada, água fresquinha e tratada, shampoo, óleos para massagem que tem um efeito estético. O boi fica com uma aparência melhor porque a massagem reduz as gorduras localizadas. Enfim, é cuidado com o maior mimo por equipe de várias pessoas.
Quando o sapateiro viu isto ficou louco da vida, deu um pontapé no boi dizendo: “Boi filha da puta! Burguês de merda! O povo passando fome, e tu aqui no bem-bom!!!”
Pegou uma faca e carneou o boi, fazendo o maior e melhor churrasco da revolução Cubana.
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