domingo, junho 25, 2006

Raul Seixas



Era o "boom" da soja em Santa Rosa RS. Os plantadores iam até a revenda Fiat, que estava começando no Brasil e pagavam em dinheiro vivo, compravam até 3 carros Fiat por vez, tirando dinheiro de sacos de aniagem que traziam nas costas. Agricultores que mais pareciam catadores de papeis, sujos e barbudos, mas cheios da grana. Algumas pessoas juntavam no meio da rua o que caiam dos caminhões que transportavam soja, enchiam sacos de 60kg, só com que cai no asfalto. Todo mundo ganhou dinheiro lá aquele ano. Fui pra lá comercializar uma revista de turismo da cidade, enviado pela Editora Intermédio, do Políbio Braga e da Ana Amélia Lemos, que tudo sabia das oportunidades de negocio de cada município, e aquele era o momento de fazer a de SANTA ROSA. Nesta edição, eu ganhei uma bela grana só com comissões. Na volta, lembro, comprei um Fusca 76 à vista.

Como a distância de Santa Rosa para Porto Alegre é de mais de 500km, as estradas para lá eram terríveis. Fiquei dois finais de semana trabalhando sem vir para casa. Nunca em viagens gostei de me enturmar com viajantes em hotéis, eles só falam de jogos de cartas, zona e encher a cara no bar do hotel. Eu sempre procurava os lugares que as pessoas da cidade freqüentavam, e nesse dia eu sabia que tinha um show na cidade. Era noite de sábado. Depois de jantar e ficar tomando alguns chopes, por volta da meia noite estava regressando para hotel, morto de cansaço. Estava subindo as escadas de madeira, quando vem em minha direção um maluco de coturno, magrão, barbudo, óculos escuros, todo de preto e cheio de correntes. Parecia ter quase dois metros de altura, fazendo o maior barulhão nos degraus, completamente louco, descendo e pulando de dois em dois degraus com um litro de uísque na mão.
Soube que era o Raul Seixas, que tinha acabado de fazer um show lá.

Desci, e do outro lado da rua na frente do hotel, estava ele e sua banda, falando super alto. Ele estava de pé com um dos pés no banco, fumando de costa para o hotel. A maior maresia em toda a praça.
Aproximei-me e perguntei se podia dar um pega. “Tudo bem” respondeu, e passou o baseado pra mim, logo depois o litro de uísque que bebiam no bico.
O Raul ficou “viajando” (eu também) no céu baixo e super estrelado lá de Santa Rosa, que naquele momento tinha se tornado o céu mais lindo que eu já presenciei. Falava das estrelas tão brilhantes e o céu baixo maravilhosamente azul marinho, salpicado de astros. Imitava Elvis dançando e fazia sons guturais ritmados e sem sentido. Aquele era o cenário mais perfeito para um show, parecia que estávamos em baixo de uma lona de veludo azul-marinho de circo, assistindo e fazendo parte de tudo.

O Raul era realmente um predestinado. Ninguém falava, só escutavam e fixavam sua imagem. Ele não parava de falar e era música e poesia tudo que dizia.
Tive este privilegio, que poucos tiveram de ter convivido com este anjo de negro chamado Raul Seixas.


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17 comentários:

Anônimo disse...

Mó viagem, heim!! kkk

Anônimo disse...

Saudações, Eloy! Gostei do texti, porém peço para que nos revele mais detalhes acerca desta circunstância em que você esteve envolvido! Depoid de ler a narrativa, a sensação que se tem é de curiosidade, e ficamos, então, na esperança de ler mais alguma coisa sobre o fato relatado.

Anônimo disse...

Queria ter tido a mesma oportunidade que vc!
Nossa conversar,ficar perto ou mesmo até fumar um baseado com Raul Seixas(ñunca fumei,mas fumaria só pra ouvi-lo palafraseando...
Adoro seus textos,e a história do Jesus,tem continuação?
xauzinho

Anônimo disse...

Poxa Eloy, mas tu é sortudo mesmo em, é incrivel!

R. S. Diniz disse...

Legal pacas. A do Jesus também.
E conta mais sobre essa noite aí com o Raul.

Anônimo disse...

Eloy, tô aqui pela primeira vez, clicando num link da página do orkut de uma amiga(olha só o novelo.Ainda bem que não enredou).
Raul era um gênio. Não tem outro nome pro cara. Deixou cada coisa sensacional que encantam os daquela época, os da seguinte, da seguinte, os de agora e os que virão.
Viagem maravilhosa esta tua. Conta mais.
Virei fã do teu blog.
Visita o meu,tá?
Só que lá, é só poesia. Ma tu vais gostar. Tenho certeza.
só não vale sair de lá sem comentar.
abração

Anônimo disse...

Tô aqui olhando para a tela e pensando em dizer algo...

Não gosto do que me ocorre e continuo olhando...
Estava de saída... Mas com vontade de falar.

Eu adoro olhar e conviver com pessoas que dizem a que vieram... Seja em sua loucura, seja em sua racionalidade...


O que faz com que as pessoas me pareçam feias é quando elas resolvem não falar.

Não falar por palavras, nem por gestos, nem por nada...

Ele tinha cachinhos bonitos.
Cara de louco.

E eu adoro a idéia de "Enquanto você se esforçar pra ser um sujeito normal... Eu do meu lado aprendendo a ser doido."


É tão triste.
Tão a minha realidade.

Por isso eu resolvi comentar...
Abraxx

Anônimo disse...

Caro Eloy! Imagino o quanto foi deliciosa sua experiência. Quantos de nós, fãs do grande Raul, gostariam de ter o privilégio que vc teve! Inspira curiosidade, em mim, e talvez em outras pessoas, saber até onde era fácil conviver com um indivíduo tão singular como o Raul. Abraços amigo!

Anônimo disse...

Legal a historia, espero que seja real !?!?!

Anônimo disse...

o comentario acima é meu...
zarufreitas@yahoo.com.br

Luis Eduardo Pomar disse...

Gostei da história ,e hoje mesmo estava sentado com meu amigo Marcio Borges que contava sobre belos momentos enfumaçados em compahia do Raulzito lá no Jardim de Alah, Rio, rapaz
demos risadas.
Valeu Eloy!

Anônimo disse...

caralhoooooooooo...
TOICA RAULLLLLLLLLLL!

Anônimo disse...

Eloy, conheci o Raul nos anos 90, com apenas 14 anos, a partir daquela data virei uma Raulzita srsr, adorei sua história e que privilégio!!!
Abraços.

Anônimo disse...

São oportunidades únicas na vida.. conhecer a vida real de pessoas sem toda a mitificação da mídia... e aí não se é mais um artista e sim um ser humano como eu ou o senhor... muito bom o relato.. me fez imaginar o cenário perfeitamente..

Abraços.. ótimo blog..

geraldotattoo disse...

Meu irmao Raulseixista, valeu pela viagem, to de cara pela oportunidade que Deus lhe proporcionou... Eu assisti ha um show do nosso Raulzito em Maringa-pr/89 e foi la o dia que a Terra parou, foi o maximo...
Mas sua historia foi incrivel, parabens...

Anônimo disse...

Este foi o dia em que a terra parou!

Gostei da historia, tomara que seja verdade.

Gabriel Fernandes

Leo2505 disse...

Nossa, sensacional!

O que talvez na época para você pode ter sido "apenas" algo, hoje tem muita gente que iria a loucura fazendo isso hahaha

Seu relato é uma raridade, pois eu estava buscando algo do Raulzito na região, sei que ele esteve em várias cidades aqui perto de santa rosa.