Quando via um gaudério sem rumo,
pensava: por que andará assim,
perdido nesses pagos,
como um cusco sem dono?
Eles apeiam do baio,
procuram uma sombra tranquila,
amarram o cavalo e, só então,
se achegam ao bolicho.
Batendo na aba do chapéu, gritam:
"Ó de casa, posso me achegar?"
Essa é a senha do cheiro
do mate amargo que sentem no ar.
Queimados de sol,
com a pele seca como cobra
lagarteando nas manhãs,
falam pouco
quase sempre só para se apresentar:
"Sou de Palmeira das Missões,
mas toco boiada
pelas bandas do Uruguai."
Quando encontram uma chinoca
nos fandangos da vida,
uma coisa é certa:
não deixam que toquem suas cabeças.
Receiam sentir-se como um Pierrô abandonado,
abanando o rabo na solidão.
Vai, gaudério!
Foge do teu destino,
cavalgando nas noites de vento minuano,
sob um céu coberto de estrelas.b
Se o destino chegar primeiro,
que ninguém saiba o que aconteceu,
nem por onde andou
este pobre desgarrado.