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domingo, março 17, 2024

Gaudério

 


Quando via um gaudério sem rumo,

pensava: por que andará assim,

perdido nesses pagos,

como um cusco sem dono?

Eles apeiam do baio,

procuram uma sombra tranquila,

amarram o cavalo e, só então,

se achegam ao bolicho.

Batendo na aba do chapéu, gritam:

"Ó de casa, posso me achegar?"

Essa é a senha do cheiro

do mate amargo que sentem no ar.

Queimados de sol,

com a pele seca como cobra

lagarteando nas manhãs,

falam pouco

quase sempre só para se apresentar:

"Sou de Palmeira das Missões,

mas toco boiada

pelas bandas do Uruguai."

Quando encontram uma chinoca

nos fandangos da vida,

uma coisa é certa:

não deixam que toquem suas cabeças.

Receiam sentir-se como um Pierrô abandonado,

abanando o rabo na solidão.

Vai, gaudério!

Foge do teu destino,

cavalgando nas noites de vento minuano,

sob um céu coberto de estrelas.b

Se o destino chegar primeiro,

que ninguém saiba o que aconteceu,

nem por onde andou

este pobre desgarrado.