segunda-feira, outubro 03, 2016

Eloy Figueiredo / Baru Derkin

Sucursal de O Globo em Porto Alegre, 1980 

Baru Derkim, além de um grande repórter fotográfico, adorava desenhar.  

quinta-feira, setembro 29, 2016

Ernesto Meyer Filho/JB


Conheci Mayer Filho, um artista extremamente fascinante, enquanto trabalhava na sucursal do Jornal do Brasil em Florianópolis. Passamos diversas tardes tomando chopp juntos e discutindo animadamente suas teorias sobre a existência de vida em outros planetas, sempre no balcão do Box 32 do mercado público.



Ernesto Meyer Filho. By Eloy Figueiredo.

terça-feira, outubro 13, 2015

O Globo


A vibrante sucursal do Jornal O Globo, no 2º andar do edifício do Relógio na Rua da Praia esquina com a rua da Ladeira, era um microcosmo da cidade de Porto Alegre. A equipe, formada por jornalistas, fotógrafos e o comercial com Setembrino Machado era composta por pessoas de diferentes origens e experiências, que trabalhavam juntas para produzir um jornalismo de qualidade.

Os fotógrafos Gerson Schirmer, Baru Derkin, Eduardo Guimarães e o Santinho eram responsáveis por registrar os acontecimentos do estado. Schirmer, um dos mais respeitados fotógrafos do Rio Grande do Sul, era conhecido por seu olhar apurado e sensibilidade. Derkin era um especialista em fotojornalismo esportivo e adorava fazer caricaturas, e Guimarães era um mestre em retratar a vida cotidiana dos porto-alegrenses. O Santinho, era um fotógrafo popular que tinha um talento especial para captar o humor e a ironia da vida urbana.

A redação da sucursal era composta por jornalistas experientes e talentosos. O chefe era o Tito Tajes. André Jockman, era um jornalista respeitado por sua integridade e profissionalismo. Paulo Gerson Antunes de Oliveira, o chefe de reportagem, era um jornalista dinâmico e criativo. José Adaltho de Vasconcellos, o repórter especial, era um especialista em política. Félix Valente, o repórter de polícia, era um jornalista corajoso e comprometido. Enio Staub, o repórter de economia, era um jornalista experiente e competente. José Julian, o repórter de esportes, era um apaixonado pelo futebol. Valci Zucoloto, a repórter, era uma jornalista antenada com as tendências. Higino Barros era  habilidoso e criativo.


Eloy Figueiredo e José Figueiredo

 Figueiredo 
sucursal de Porto Alegre de O Globo

Eloy Figueiredo
André Jockmann na primeira Fenachamp

Eloy Figueiredo
O Globo

sábado, agosto 22, 2015

editora expressão




       


A Editora Expressão, fundada em 1990, buscava preencher lacunas na cobertura nacional, destacando-se por suas publicações pioneiras no Sul do Brasil. Notavelmente, o Guia de Sustentabilidade, incluindo o premiado Prêmio Expressão de Ecologia desde 1993, reconhecido como o principal do país no setor empresarial, certificado pelo Ministério do Meio Ambiente.


segunda-feira, fevereiro 20, 2012

SOBREVIVI



Quando criei este blog, pensei que não havia retorno pra mim. Apenas quem viveu o que vivi pode afirmar com certeza: quem tem, tem medo sim! A intenção era compartilhar experiências reais, algumas tão surreais que pareciam "viagens", narradas para aqueles que viriam depois de mim.

Entretanto, ao descobrir que minha vida continuaria, interrompi as publicações para preservar minha imagem da saga de "Jesus me disse". Guardo relatos para compartilhar com amigos, ex-amigos e aqueles que planejo reencontrar, buscando perdão e evitar ferir qualquer ser novamente. Pessoas que contribuíram para minha jornada terrena, como a trama da Tv Cabo, o cachimbo do Acari Amorim, Zuba Coutinho da revista Expressão, Olivio Lamas, Carlão do JB e o Presidente Collor, Ademar Bem Jonhson, Zé Netto do DC, Gerson Schirmer no Canto da Lagoa, Eduardo Paredes, numa viagem com Jesus na Lagoa, Marco Cezar da Mural, Delegado Eloy, entre outros grandes amigos.

Quem sabe, talvez uma nova fase mais animada esteja por vir.

25/10/2005





Ilha das Flores
>>>>>assista clicando aqui<




segunda-feira, janeiro 01, 2007

Guerra no Rio Guaíba.


O lago da Redenção já era pequeno demais para minhas aventuras náuticas, e, além disto, descobri que o seu Zé alugava barcos no rio Guaíba sem nenhuma exigência, então passei olhar as ilhas em frente do bairro Alto da Bronze como terras a serem conquistadas. Só tinha um problema... O dinheiro para o aluguel do barco ali era bem mais caro que os da Redenção.


Eu estava decidido a embarcar numa aventura até a ilha mais próxima e para isto comecei uma pesquisa no Colégio Paula Soares onde estudava, na 4º serie. Foquei um guri que poderia financiar esta empreitada. Notava que ele sempre andava com um bom corte de cabelos, boas roupas e um sorriso que ele não tirava do rosto nem mesmo brabo, via também que as professoras lhe dedicavam total atenção e às vezes ele era buscado de automóvel no colégio. No colégio nós éramos amigos, mas só no colégio. Nunca via ele na rua ou na pracinha com alguma turma de guris, mas ele tinha uma cara boa de gente legal e foi por isto que o convidei para esta primeira aventura, uma conquista da ilha pequena e ele topou na hora. Só tinha um problema: ele era de uma espécie de guri rico e bem cuidado. Depois vim saber que ele era mesmo. Filho único no meio de cinco irmãs mais duas mães. Eu ainda não sabia que as pessoas se separavam. Ele foi o primeiro guri que conheci filho de pais separados. Para começar eu teria que ir até sua casa pedir permissão para seus pais - coisa estranha, eu saia à hora que queria depois das aulas e meus amigos também, imaginava que todo mundo era assim como eu.
No dia combinado fui eu e meu irmão mais novo, Zezinho, até o amplo apartamento no edifico GBOEx, onde ele morava pedir permissão e mentir para ele ir comigo andar de barco na Redenção.
Fui interrogado pela sua madrasta durante vários minutos, ela fazia questão de me mostrar o quanto valia aquele guri e isto quase me fez desistir da aventura no rio e ir com aquele príncipe (cara ele tinha) pra redenção.
Eu falei:
- Eu me responsabilizo por qualquer coisa que poderá vir a acontecer com ele.
Ela então falou:
- Quer dizer se acontecer do André (Jockyman, filho do Sérgio, um dos maiores e melhor jornalista que já conheci) morrer, você vai me dar um outro André?
Aí me dei conta da enorme responsabilidade, pensei:
“Puta que pariu... que fria estão me metendo”.
Depois de meia hora de recomendações, para a minha surpresa e angústia, ela concordou. Agora era eu que não mais queria ir ao rio e sim remar no lago da redenção, mas o André e o meu irmão não quiseram aceitar as mudanças de planos. Já de cara comecei a me preocupar para atravessar as ruas quase pegando ele pelas mãos que ele soltava querendo mostrar rebeldia. Logo eu, que nunca me preocupava com nada até este dia.
Ele e meu irmão iam correndo na frente como cachorrinhos de apartamentos e eu atrás com o coração na mão:
- Cuidado com o bonde, olha os carros, meu Deus!
Quando chegamos para escolher o barco, escolhi o mais largo e com melhor estabilidade, porem ele era pesado e lento, mas sabia que este não viraria.
Notei quando estávamos chegando ao velho Zé que a turma da Rua Demetrio Ribeiro tinha seu próprio barco, e todos estavam soltando rojões na água e fazendo uma enorme algazarra, alguns mergulhando e dando caldinho nos guris menores e os outros em pé dentro do barco mostravam destreza e velocidade no remo.
O André sentou na proa e meu irmão na popa enquanto eu sentei no meio, no lugar dos remos sob protestos dos dois.
Eu já tínha remado um quinhetos metros da margem e vi que entrava água pelas frestas mal calafetadas do barco e por isto já tinha duas latinhas estrategicamente posicionadas para ir tirando a água de dentro. Isto achei normal.
Então... vi a turma da Demetrio Ribeiro se aproximar velozmente em nossa direção, atirando rojões às gargalhadas. Foi quando um dos rojões caiu dentro do nosso barco fazendo ele se estremecer todo, quase rachando suas tabuas velhas e frágeis.
Reconheci o alemão Edson, seu irmão Lauro, o Cadico, e o “traidor” Martelinho, morador da Rua Fernando Machado que estava nos remos rindo e fazendo a maior força. Eu ameacei de quebrar suas caras se eles continuassem. Ai mesmo que eles riam mais e jogavam mais rojões. Pedi que meus marujos:
- Tirem à água do barco, tirem à água...
A água já estava tapando nossos pés e isso me deixava aflito: o que fazer se o barco afundasse com aquele principe dentro dele? Eu daria outro André à madrasta? O suor escorria no meu rosto naquela tensão da guerra de barcos, que mais parecia um filme de piratas com canhões e espadas. Enquanto os piratas liderados por alemão Edson com sua cara de mal e um dente de ouro exposto pelo sorriso cínico, bombardeavam meu navio. E eu dizia: "Continuem tirando a água!", mais aflito do que nunca. Foi então que decidi lutar de frente para proteger o principe André. Me levantei e peguei o meu remo-espada, que serviu para que eu rebatesse as fortes e pesadas balas de canhão. Rebati uma, duas, três, até que o capitão pirata deixasse de sorrir. Mas mesmo com uma pequena vantagem, meu navio era muito fraco e a água, apesar do empenho de meus marujos, já estava nas nossas canelas. Olhei para margem e vi o velho Zé que vinha gritando e remando em nossa defesa da guerra. Os meus tripulantes estavam paralisados de medo, mas, mesmo assim, o André continuava com seu sorriso de Curinga. Foi então que, felizmente, percebemos que a correnteza estava à nosso favor. Percebi que o navio pirata deles estava ficando de lado para o nosso. Apesar de ser mais fraco, o meu navio era maior que o deles e, com isso, empurramos com toda a força o nosso contra o deles. O gigantesco navio pirata vacilou na água, e, logo depois, virou, para nossa felicidade e desespero da turma da Demetrio Ribeiro, que ficaram agarrados ao navio e assustados com os corpos dentro do rio.
Logo me dispersei da minha "viagem" de filme e, aliviado, vi que meus tripulantes marujos estavam salvos. Foi aí que eu vi o velho Zé, que chegou ralhando com eles. Fomos rebocados pelo barco do velho, já que o nosso ficou à deriva com água que já cobria nossas canelas, mas contentes e felizes como todos os vencedores.

Anos depois nos encontramos por acaso, na combatente e vibrante sucursal do Jornal O Globo, no 2º andar do edifício do Relógio na Rua da Praia. Lá trabalhamos juntos por vários anos, eu como representante do Dr. Roberto Marinho, ele na redação e o Zezinho, meu irmão, como motorista e distribuidor do jornal em Porto Alegre.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Doca das Frutas.

Não lembro mais o nome da comunidade que ficava do outro lado da rua Washington Luiz, para quem descia pela Gen. Portinho até a beira do rio Guaíba. Ali morava o velho Zé, um gaúcho calmo e pescador, que também alugava barcos para passeios. Ele estava sempre de bombachas camisa branca aberta e com um cinto largo e uma faca atravessada nas costa, com bainha de prata toda trabalhada, que com ela ficava picando fumo de ramo com um pé no barco e o olhar perdido no horizonte.
Um dia um outro morador um negão forte pra cacete, completamente bêbado se aproximou do velho Zé e deu um violento soco em sua cara. O velho Zé, antes de cair no chão, sacou rapidamente a faca da cintura e num golpe de cima para baixo abriu o peito forte do negão que ficou surpreso com a velocidade do golpe. A coisa mais feia que já tinha visto até aquele dia. O agressor arquejando em pé com um enorme talho no peito que deixava ver seu coração batendo por traz das costelas, e ele com olhos arregalados com aquela reação do velho Zé que além de velhinho era também bem magrinho, mas ligeiro como um raio.

Antes das dragas começarem o aterro onde hoje é o colégio Parobé, a gurizada fazia uma vaquinha na pracinha da Bronze, e ia até as Docas das Frutas, onde os barcos ficavam atracados no porto em frente do Pão dos Pobres, vendendo todos os tipos de frutas que vinha das chácaras pelos lados da Serraria e de Belém Novo. Comprávamos meio cento de bergamota e voltávamos pela beira do rio descascando e colocando as casacas entre os dedos, jogando-as como bumerangues ou helicópteros. Era mais brincadeira do que vontade de comê-las.
Nesta mesma época das bergamotas, as vezes levávamos rojões e íamos jogando dentro do rio para ver espalhar água. Nossa prática era mais ou menos assim: acendíamos os rojões, contávamos até cinco e atirávamos na água.
Um dia o Alfeu errou nas contas e ele explodiu em sua mão, a mão do Alfeu ficou como estas luvas cirúrgicas quando se começa a encher. Parecia um balão. Me parece que ele quebrou vários dedos, não lembro bem...

Mas a história que quero contar mesmo foi da Guerra no Rio Guaíba, entre eu e mais dois contra a turma da Rua Demetrio Ribeiro...

Aguardem...

sexta-feira, dezembro 08, 2006

O Dedo duro.



Para economizar na produção de uma edição de turismo do litoral norte Gaúcho no final da década de 70, seguiram em viagem um repórter, um fotógrafo, o cara do Comercial (Silvino Goulart) e o motorista Arlindo da Brasília da Editora.
Três dias depois da saída desta equipe, toca o telefone numa reunião de pauta de fim de tarde. Atende o editor, coloca o telefone no modo viva-voz, e diz:
- Fala, meu!
- É o Nunes, estou falando aqui de Capão da Canoa.
- Tudo bem com o trabalho de vocês?
- Esta tudo bem sim, terminaremos ainda esta semana o trabalho de campo.
- E daê? O editor já começando a se impacientar com a ladainha.
- Bem, sai daí com a incumbência e a responsabilidade de administrar as despesas de viagem...
- Sim eu sei.
- Quando saímos de Porto Alegre para Tramandaí, o Barão, o Renato e o Arlindo pediram um adiantamento...
- Adiantamento pra que?
- Fomos até o Porto, e eles compraram 50 pila de maconha e agora está acabando, eles querem comprar mais 50, aqui em Capão... O editor fica pensando preocupado e pergunta:
- Mas eles estão fazendo algum tipo de escândalo? Tem risco de vocês serem presos?
- Não, não! Eles são super reservados, só fumam dentro do carro.
- E eles estão trabalhando? Como está o trabalho deles?
- O Barão já fechou as duas capas internas, as páginas centrais, 4 cores, vários anúncios de páginas inteiras e meias páginas. Fechou também com uma construtora de Atlântida, um encarte em papel chambril 4 cores, para circular também dentro das edições normais da Editora. O fotografo já fez todas as fotos inclusive as do comercial e agora estamos seguindo para Torres onde o Barão falou que já fechou com um hoteleiro a quarta capa desta edição...
- Então!!! Dá o dinheiro pra eles, meu!
Desligando o telefone, fala para o diretor administrativo, decidido:
- Demita este dedo-duro na volta!!!

sábado, outubro 21, 2006

GUARDA DE TRÂNSITO

Em 1966 fomos morar na Avenida Prótasio Alves, 5567, no edifício Pioneiro. Confesso que foi um choque já que morávamos no centro (Alto da Bronze) e fomos para um bairro que na época era quase todo mato, dos dois lados, descendo a Prótasio passando para o outro lado da avenida Carlos Gomes, e lá não existia nada. Petrópolis era até o fim da linha do Bonde, que ficava em frente do cine Atlas, então, não sabia muito bem o bairro que morávamos: se era Petrópolis, Vila Jardim, Bom Jesus, Chácara das Pedras ou Paineira. Este último era o nome que eu mais gostava. Em frente deste edifício, os moradores mais jovens se reuniam principalmente nos fim de semana escutar a Rádio Continental, para curtir Elvis, Little Richard, Chuck Berry, Beatles, Rolling Stone, Roberto Carlos, Wanderléia, Jerry Adriani, Os Mutantes e o Renato & Seus Blue Caps, era o nosso primeiros contato com o Rock 'n Roll. Este era o ano da grande transformação planetária, a partir desta década nunca mais o mundo foi o mesmo. Ficávamos ali mostrando nossas roupas “da hora”, botinhas Calhambeque, pulseiras e anéis com os brucutus dos Fuscas, calças boca-de-sino de duas cores e camisas com as golas altíssimas que minha mãe costurava para gurizada. Colocávamos o toca-discos portátil em formato de maletinha com um grande auto-falante na tampa ou o potente rádio portátil do Dinarte Jackes, um dos “magrinhos” do grupo. Aliás, o nome da turma era a Turma dos Magrinhos. Já éramos olhados como:
- Estes cabeludos... todos maconheiros...

Um dia, encontrei perdido o apito do guarda noturno do Pioneiro. O guarda era o seu Albino, um velho e magro gauchão, ex-policial de trânsito que vivia com sua capa azul marinho de lã, cobrindo até os pés, um bigodão amarelado pelos palheiros fumados e um relho de nervo de pênis de cavalo na mão. Eu comecei a brincar com o apito como se fosse um guarda de trânsito, e, nesta mesma hora, passou um Jipe preto-e-branco (quero-quero) da Policia Civil e eu apitei para eles. Eles pararam e foi uma gargalhada geral, todo mundo riu, até quem não estava no grupo. A polícia nesta época era temida, caía sobre o Brasil neste ano nuvens escuras terríveis da Ditadura Militar. Continuamos brincando todos ali e quando menos esperávamos, eles surgiram: um veio a pé por trás e o outro chegou de Jipe com os faróis altos em nossa direção. Automaticamente joguei o apito no chão, eles chegaram com os revolveres na mão gritando e dando pontapés:
- Todo mundo com as mãos na parede, mãos na parede!!!
Enquanto um dava uma geral em todos encostados com as mãos na parede, o outro perguntava quem era o guarda de trânsito. Ninguém dizia nada. Éramos uns oito, com idades que variavam entre 13 e 16 anos. Eles falaram:
- Já que ninguém quer dizer quem estava apitando vai todo mundo preso!
Abriram a porta do camburão atrás e fomos entrando todos. Aí, os menores começaram chorar dizendo para os policiais: "Foi este aqui seu guarda, foi este aqui..." apontando pra mim. Eles ficaram putos e responderam:
- Já que não falaram quando perguntei agora vão todos em cana!
Foi a maior choradeira dos pequenos. Fomos levados presos para a famosa 8º delegacia, tida como torturadora. Sabia-se que o torturador era praticante de luta livre, o Jangada, um cara que pesava mais de 120 kg. Ele perguntou para os guardas que nós prenderam quem era o guarda de trânsito, sentado atrás de uma escrivaninha. Me empurraram para frente daquele monstro com uma cara de mau que me falou segurando uma palmatória:
- Bota este apito na boca e fica apitando até que eu bata nesta mesa para tu parar, se tu parar antes eu não vou bater na mesa, eu vou bater em ti!!! Vai, começa!!!

Magrinho... fui salvo por minha irmã, a Clara, que entrava na delegacia junto com um monte de mães e pais apavorados para nós tirarem de lá. Os guris menores choravam abraçados em seus pais... Depois de tudo explicado eles iam embora um de cada vez, a bomba sobrou pra mim que tomei o maior esculacho do Jangada, e fui o último a sair da delegacia.

domingo, setembro 03, 2006

Jesus me ouve. >>>>> 6º parte.


Encontrei Jesus, acordando numa manhã de sol de inverno, num frio de rachar do mês de agosto. Ele estava acabando de acordar. Mulheres, homens e crianças passavam apressados a caminho de suas compras no Mercado Publico, passavam por ele, ali deitado, tremendo de frio sem prestarem atenção; de quando em quando pombas rompem vôos fazendo rufarem suas asas para em seguida posarem novamente entre os pedrestes. Notei que ele estava com os pés inchados e destapados, barbudo, roupas imundas e estava deitado num banco de cimento, embaixo de uma árvore baixa nativa, enrolado num cobertor azul tipo aqueles usados para embalar móveis em mudanças. Ele olhava para todos os lados, até reconhecer onde estava.
Cheguei mais perto e comprimentei-o: “Bom dia!”.
Ele me olhou desconfiado e nada respondeu, ficou olhando para cima vendo os raios de sol passar por entre as folhas da árvore.
Perguntei: “Quer tomar um gole?” E estendi a garrafa de cachaça quase no fim. Ele sentou no banco, deu um gole e devolveu a garrafa dizendo que estava com uma puta fome, olhava e apontava para barriga para mostrar que dava para ouvir que estava roncando: ela roncou tão alto que começamos a rir, rimos até quase chorar, os dois bêbados dando risadas às nove da manhã de um dia da semana... Quem olhava não entendia!
Curiosamente, também senti muita fome e não estava a fim de beber como em dias anteriores.
Como eu tinha algum dinheiro e estava mais bem vestido que o Jesus, fui até a padaria e pedi dois pães com manteiga e uma média com leite que trouxe dentro de duas garrafinha de água-mineral. Comemos ali sentados vendo as pessoas passarem. Os pombos atraídos pelos pães vieram em revoada, ficando em nossa volta. Foi quando ele me perguntou: “Diz ai gaúcho, o que tu veio fazer aqui, veio passar férias? Perguntou, rindo ironicamente”.
Respondi que tinha voltado para o meu estado natal e que sempre fora esta minha vontade, pois tinha nascido aqui, mas nunca tinha morado. Saí com menos de dois anos e voltei com 37 anos.
Eu precisava falar para alguém que estava recaído, eu não agüentava mais beber, e novamente estava coberto com a lama do fundo do poço. Eu falei:
- Estou recaído já há 2 anos.
Ele não entendeu, ficou me olhando como se eu tivesse dito que estava com alguma doença contagiosa. Eu sou alcoólatra e não consigo ficar no primeiro gole. Ele ficou ainda mais espantado e perguntou. - Como assim, alcoólatra? Eu sorri e disse: “vou te contar, minha história, como tudo começou...”:

Quando tinha uns 17 anos, não conseguia entender como é que os meus amigos podiam beber Vodka, Conhaque, Uísque, Cerveja e Cachaça com Limão, com Underberg, com Bitter, com losna, com mastruz... urgh!
Bom era beber Grapete, Pepis-cola, Guaraná, Minuano-limão, Fanta-uva, fumar umzinho e suco de laranjas, isto sim era bom! Mas álcool... Não sei como conseguiam.
Mas, numa noite, eu estava num Parque de Diversões que havia chegado na Chácara das Pedras, com todos os meus amigos felizes da vida apostando, correndo de estande em estande: uns no estande de tiros ao alvo, tiros nos patinhos coloridos que ficavam passando continuamente e quando eram atingidos caiam para o lado, outros amigos na Roda-Gigante, no Barquinho, dirigindo os autinhos elétricos para estacioná-los na garagem e retira-los de lá, no Chapéu-Mexicano e outros no Carrossel...
E eu, numa barraquinha de jogos de argolas, aquelas, que se você conseguisse argolar o prêmio, levava na hora. Eu mirei minha última argola de três, numa bailarina de gesso, linda, dançando com os braços para cima nas pontas dos pés, joguei, errei, acertei um litro de vermute...
Abri ali mesmo e provei, senti o gosto doce do Vermute e bebi vários goles, pouco tempo depois... Foi incrível! Foi maravilhoso! Tudo se transformou para muito melhor. As luzes, à noite, a música, o céu maravilhosamente estrelado, o néon colorido da Roda-gigante, as meninas no Carrossel com os cavalinhos subindo e descendo. As pessoas além de ficarem mais altas também ficaram lindas, todas sorriam. Pareciam que quando caminhavam seus passos atingiam uns três metros cada em câmera-lenta. Também fiquei assim, me aproximava das meninas, falava qualquer coisa que as deixavam felizes, dava beijinhos em seus pescoçinhos brancos e saia flutuando, toda minha timidez desapareceu, eu declamava, cantava e dançava como se fosse um bailarino no Paraíso, as atenções de todo Parque, pareciam toda voltada pra mim, meus amigos me aplaudiam e eu era o guri mais feliz do mundo!
- Foi então, que compreendi companheiro, - como é mesmo o teu nome ?
- Jesus! Que não era pelo gosto que os meus amigos bebiam, era o “efeito”, efeito maravilhoso que eles sempre buscavam. Mais tarde foi que descobri, que o Álcool é a droga mais poderosa que existe.
Vomitei quase as tripas, naquela noite, e nunca mais consegui beber Vermute sem enjoar.
Continua.

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